INTÉRPRETES
ANNA IGNÁCIA DE FREITAS
Apesar da falta de informações biográficas sobre Anna Ignácia de Freitas, sua presença como cantora e mestre de capela do Real Mosteiro de São Bento da Avé-Maria pode ser atestada pela grande quantidade e a qualidade das obras à ela dedicadas ou oferecidas e por ela encomendadas e interpretadas. Não se sabe ao certo o ano de seu ingresso no Mosteiro, mas sabemos que a partir de 1793 ela já exercia a função de mestre de capela. É possível que ao menos parte de sua formação musical tenha ficado a cardo do compositor Frei Francisco de São Boaventura, contudo, a estreita relação entre a cantora e o compositor portuense António da Silva Leite se torna evidente nas diversas obras de autoria do compositor dedicados a freira beneditina, muitas das quais apresentam um elevado nível de virtuosismo vocal. Para além de obras compostas nos anos em que Anna Ignácia esteve a frente da capela musical do Mosteiro, ao que tudo indica a cantora também preservou outros manuscritos de compositores portugueses e italianos pertencentes ao expólio do convento. Ao menos de acordo com os manuscritos preservados, trata-se sem dúvida da mais importante intérprete atuante no Mosteiro de São Bento da Avé Maria na viragem dos séculos XVIII e XIX.
MARIA CÂNDIDA CARDOSO
D. Maria Cândida Cardoso é uma das mais particulares intérpretes do Mosteiro de São Bento da Avé-Maria por ter uma voz de baixo, caso raríssimo entre vozes femininas. Há um verso Domine Labia Mea, composto por António da Silva Leite e acompanhado por órgão, a ela dedicado. Mas muitas das obras para mais de 3 vozes pertencetes ao espólio do antigo mosteiro são para sopranos e baixo, o que nos leva a crer que possivelmente foram interpretadas por D. Maria Cândida.
ANNA FELÍCIA
É uma das mais importantes e longevas musicistas do Mosteiro de São Bento da Avé-Maria na viragem dos séculos XVIII e XIX. Foi maestra de capela e tem sua atividade documentada desde 1794 até pelo menos 1828. Das 13 obras a ela dedicadas conservadas na Biblioteca Nacional de Portugal, 12 são de autoria de António da Silva Leite e uma é do compositor José Monteiro Pereira.
DULA MARIA GARCIA
Existem umas Matinas do Natal, escritas por António da Silva Leite em 1817 e dedicados à Dula Maria Garcia, na altura escrivã do convento.
TERESA RITA
Há três obras dedicadas a esta freira preservadas na Biblioteca Nacional de Portugal, todas compostas por António da Silva Leite. Dentre elas, há um Miserere para 4 vozes, violinos, baxo e órgão de 1784 e um Moteto Domine Jesu para 4 vozes, violinos e órgão, encomendado por Teresa Rita para a festividade do Senhor dos Passos de 1790. A terceira obra não consta a data de composição, mas é certamente anterior a 1784 pois trata-se de uma Missa para 4 vozes, violoncelo e órgão escrita para a profissão de Teresa Rita no Mosteiro de São Bento da Avé-Maria.
FLORINDA ROSA
Existem duas obras dedicadas a cantora Florinda Rosa no espólio do antigo Mosteiro de São Bento da Avé-Maria, um dueto para órgão para ser interpretado na festa do Patriarca São Bento, escrito por António da Silva Leite em 1794 e interpretado ao lado da supracitada soprano Anna Ignácia de Freitas, e uma obra para a semana santa intitulada Feria V in Coena Domini, para soprano, baixo e órgão, também de autoria de António da Silva Leite e datada de 1795. Não há registos a atuação de Florinda como intérprete após essa data.
MÁXIMA BRANDÃO
Só existe uma obra dedicada à D. Máxima Brandão, a Antífona Vota Mea Domino para soprano solo, violinos, baixo e órgão de António da Silva Leite, composta em 1795. Pelas características da obra, a religiosa tinha uma voz de soprano com muita facilidade para a execução de coloraturas. Trata-se de uma obra exigente em termos técnicos e de grande valor artístico.
MARIA AMÁLIA
Existem quatro obras dedicadas à D. Maria Amália no acervo da Biblioteca Nacional de Portugal: um verso Quoniam Iniquitatem de 1806 para soprano e órgão, um Gradual de Nossa Senhora para dois sopranos e baixo, violoncelo e órgão, também de 1806, um moteto Domine si sponsa para soprano e órgão de 1821 e o moteto Fulgebrunt Justi, também de 1806, todas são de autoria de António da Silva Leite. A última destaca-se pela forte influência operística, já que se trata de um recitativo seguido de uma ária já plenamente inseridos no estilo belcantístico.